Nos dias 23, 25 e 26 de julho, o Instituto do Negro de Alagoas pôde contribuir com o debate referente às questões da população negra, apresentando um pouco do que tem feito no estado de Alagoas, por ocasião da 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência – SBPC. Este ano, a Reunião contou com um espaço específico para a promoção das discussões relativas às populações negras e indígenas, a SBPC Afro e Indígena. Nossa participação se deu em duas mesas-redondas: “Racismo no Brasil: invisibilidades e enfrentamento às formas de dominação” e “Desafios da Garantia da Inclusão Através das Políticas de Cotas: um diálogo sobre democracia”. A primeira mesa-redonda foi proposta e organizada pela Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), Associação Brasileira de Psicologia Política (ABPP) e Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP), na pessoa do Professor Dr. Marcos Mesquita. A segunda mesa-redonda foi proposta e organizada pela Comissão de Gênero e Raça do Instituto Federal de Alagoas (IFAL), nas pessoas da Prof.ª Dr.ª Elaine Rapôso e da Assistente Social, Danielly Spósito.
Ambas as mesas-redondas se deram em auditórios lotados por estudantes e professores, os quais contribuíram consideravelmente com o debate empreendido, questionando aspectos de nossas relações raciais e das iniciativas de promoção socioeconômica da população negra brasileira. De nossa parte destacamos os desafios atuais para a implementação de políticas públicas para aquela população de um lado, e de outro, tratamos um pouco do lobby, advocacy e litigância que temos feito junto às instituições públicas no estado de Alagoas.
Por ocasião do debate foi também apresentada a publicação do INEG/AL, o livro “Cabeça Preta: pesquisas sobre a questão racial em Alagoas”, o qual foi adquirido por alguns dos participantes do evento.
O INEG/AL ministrou ainda uma Oficina intitulada “Intervenções Artístico-Culturais Étnicas na Cidade de São Paulo” em conjunto com Leandro de Arruda, integrante do Coletivo da Comunidade do Glicério de São Paulo. Foi um espaço de importante troca de experiências, onde refletimos sobre as diferenças e semelhanças de nossas regiões uma vez que as pautas das periferias se assemelham em todo o país.




Em reunião ocorrida no dia 19 de fevereiro de 2018 entre a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL), o Instituto do Negro de Alagoas (INEG/AL) e o Ministério Público Estadual (MPE), foi definido – após debate – que a referida Fundação criará Comissão de Políticas Sociais e Afirmativas, no prazo de trinta dias (prorrogáveis pelo mesmo prazo). Tal Comissão terá por atribuição construir uma proposta de promoção dos segmentos negro e indígena, com foco na política de concessão de bolsas de pós-graduação (Mestrado e Doutorado).
Ações dessa natureza já vêm sendo desenvolvidas por instituições congêneres à FAPEAL, a exemplo das bolsas de iniciação científica do CNPq para estudantes negros cotistas. Apesar disso, o debate junto às Fundações estaduais de fomento à pesquisa tem sido praticamente inexistente, quando não, pouco exitoso. Desde o ano de 2010 que o Instituto do Negro de Alagoas vem dialogando com a referida Fundação para que a mesma constituísse um programa específico de concessão de bolsas para negros e indígenas, visando a promoção/inserção destes segmentos nos cursos de Mestrado e Doutorado do estado.

No dia 17 de novembro de 2017, a Comissão de Cotas na Pós-Graduação da UFAL se reuniu com um conjunto de coordenadores de alguns dos programas de pos graduação daquela instituição. Durante o encontro foram discutidos diversos aspectos que constituem a proposta, destacando-se duas questões em particular: a nota de corte e o debate concernente às bolsas de estudo.
No que diz respeito às bolsas de estudo, num primeiro momento, alguns coordenadores argumentaram sobre a necessidade da proposta ser condizente com o que definem as agências de fomento à pesquisa, tais como a CAPES, o CNPq e a FAPEAL. No entanto, o Prof. Dr. Marcos Mesquita, docente do Instituto de Psicologia, salientou que, apesar disso, os Programas possuem autonomia para criar critérios de distribuição das bolsas já concedidas por tais agências.
O debate relativo à Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil nos remete, necessariamente, à responsabilização das famílias que escravizaram seres humanos no Brasil colonial. Dessa forma, o Estado não se constitui na única instância para a qual a população negra deva dirigir suas reivindicações. No estado de Alagoas em particular, podemos exemplificar enquanto famílias que submeteram milhares de pessoas ao regime escravocrata, a família dos Calheiros e a família dos Palmeira, assim como assinala a historiografia local. Estas e outras famílias alagoanas têm o dever de indenizar financeiramente aquela população, dentre outras formas, por meio da criação de um fundo de reparação o qual subsidiaria a execução de políticas públicas de promoção socioeconômica da população negra alagoana.
Entre os dias 07 e 15 de agosto ocorreu mais uma edição da tradicional Festa do Meado de Agosto, realizada na comunidade negra rural de Poço do Lunga, localizada no município de Taquarana/AL. O município conta ainda com mais três comunidades negras rurais, sendo as mesmas a comunidade de Mameluco, Passagem do Vigário e Lagoa do Coxo. O evento ocorreu em meio a uma conjuntura de ameaças políticas aos direitos das comunidades remanescentes de quilombos de todo o país, na medida em que o Partido Democratas (antigo PFL) mais uma vez ajuizou ação no ano de 2004 contra o Decreto que regulamenta os procedimentos para a titularidade das terras quilombolas. Devido a pedidos de vista por parte dos ministros do STF o julgamento vem sendo adiado. Para discutir esta e outras questões, a atividade contou com a realização de algumas rodas de conversa, as quais se caracterizaram pela diversidade na abordagem e pluralidade de perspectivas, evidentes em uma das rodas de conversa que contou com a facilitação da militante do Hip Hop, Alyne Sakura; da integrante do grupo Identidade Alagoana, Ticiane Simões; do membro do grupo Anajô, Jorge Filho, além de membros de outras organizações. O Instituto do Negro de Alagoas também se fez presente nesta atividade, estabelecendo um diálogo com os estudantes da Escola Estadual Santos Ferraz sobre a necessidade de organização da população negra, bem como também sobre o dever do Estado e dos descendentes das famílias que escravizaram nossos ancestrais, no desenvolvimento de políticas públicas de promoção socioeconômica de nossa população.
Ticiane Simões, por sua vez, também por meio de performance cênica, estabeleceu um diálogo com o público presente fazendo alusão ao comodismo característico do comportamento do cidadão comum, o qual geralmente não se importa com o problema do outro, muito embora esse mesmo problema seja de responsabilidade da sociedade como um todo.