Pelo Direito à Existência Negra! (Editorial)

CORPO NEGRO 2

As cidades são construções sociais, culturais, políticas e econômicas que elaboram condições multifacetadas no que diz respeito às experiências individuais e coletivas em torno do seu cotidiano. É também nas cidades onde se dão cotidianamente as lutas por significados, por direitos, e onde se manifestam de forma incisiva os elementos de diferenciação. Nós estamos cotidianamente vivendo processos de diferenciação, que se manifestam no formato de segregação espacial e de racismo. A luta diária é ter direito a cidade, ter direito de circular por ela e torna-se parte dela. O sentimento de negação à cidadania tornou-se comum para pessoas de pele preta. A história da formação das cidades brasileiras, principalmente na região nordeste, é bastante perversa para nós afro-brasileiros.

As cidades, antes províncias, foram palcos de castigos, perseguições, encarceramento, etc., que, ao longo dos anos, tornaram-se parte da memória coletiva da sociedade brasileira. Os processos de significação das cidades passa pelo não reconhecimento da população afro-brasileira como pertencente a ela. O processo de vigilância em torno da população afro-brasileira é condição de existência para o Estado brasileiro que impõe de forma perversa, dinâmicas de perseguição semelhantes ao modus operandi de outrora, utilizando de velhos e novos mecanismos de vigilância para reproduzir o racismo institucional nos espaços públicos. Estamos lutando pelo acesso a saúde da população negra, a implementação da lei 10.639, por direitos às manifestações religiosas de matriz africana, pelo direito dos LGBTI negros e negras. Estamos lutando pela vida dos jovens negros. Os dados apontam para total violência do Estado brasileiro para as questões que envolvem a população preta. Evidenciam um grande número de homicídios de jovens, em particular, jovens negros que moram nos bairros socialmente periféricos. O Atlas da Violência de 2018, elaborado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), situa o estado de Alagoas na segunda posição quando o assunto é homicídio, com uma taxa de 54,2 homicídios para cada grupo de cem mil habitantes. A cidade de Maceió, no Estado de Alagoas, ocupa um lugar de destaque no que se refere aos dados de homicídios.

É importante pensar que as politicas públicas que foram de alguma forma pensadas para sanar o problema, não funcionaram como deveriam. O fato não diz respeito à perspectiva metodológica dos programas, mas ao desinteresse em encarar o problema. O desinteresse é fruto do Racismo Institucional. É importante que apresentemos o cenário para que possamos propor um projeto que busque dialogar de forma incisiva sobre essa questão tão delicada para a população negra em Alagoas. É importante a compressão de que Alagoas não aponta para uma perspectiva de discutir essas questões por parte do Estado. O que estamos vivenciando é uma politica de criminalização da população negra e um aumento dos homicídios em decorrência de uma politica incapaz de compreender nossas questões e nossos direitos. É uma politica de negação dos nossos corpos.

Tudo isso somado ao descaso histórico das famílias alagoanas  que escravizaram seres humanos negros. Famílias estas que estão em nosso meio até os dias de hoje mas que nem sequer cogitam em suas responsabilidades frente ao atual quadro de marginalização e de preterimento socioeconômico da população negra local. Percebam que o debate não diz respeito apenas ao poder público. É mais do que chegada a hora de atualizar e fortalecer nosso debate em torno da promoção da população negra brasileira, e alagoana em particular. Organizemo-nos para tanto.

 

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